O que é ser professor hoje? Ser professor hoje é viver intensamente o seu tempo com consciência e sensibilidade. Não se pode imaginar um futuro para a humanidade sem educadores. Os educadores, numa visão emancipadora, não só transformam a informção em conhecimento e em consciência crítica, mas também formam pessoas. Diante dos falsos pregadores da palavra, dos marqueteiros, eles são os verdadeiros "amantes da sabedoria", os filósofos de que nos falava Sócrates. Eles fazem fluir o saber – não o dado, a informação, o puro conhecimento – porque constróem sentido para a vida das pessoas e para a humanidade e buscam, juntos, um mundo mais justo, mais produtivo e mais saudável para todos. Por isso eles são imprescindí­veis.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Ser um bom observador


Você, aluno! Se não está habituado a observar detalhes, aprenda!
Você, professor! Se não observa com acuidade seu(s) aluno(s), aprenda!

Se não aprenderem,  correm  risco de passarem vergonha e frustração.
Já nem se fazem concursos! É o JOBS FOR THE BOYS em pleno funcionamento! E dizem que estamos em crise profunda. Vão para o raio que os parta... digo eu. PS? Nunca!!!!!



sábado, 4 de julho de 2009

Postura e comunicação em sala de aula

Imaginemo-nos ter que atuar em um palco pela primeira ou até a décima vez.
Expectativa, nervosismo, insegurança, frio na barriga, desarranjo intestinal... óóóh, insegurança perversa!!!

Não se desespere! São sintomas passageiros.

Quando, finalmente a insegurança passar, a sala de aula será a extenção da sua sala de estar. E o encantamento, a fascinação e alegria serão tamanhas, que vale a pena o estágio de desconforto.
Importa mesmo é o amor ao ofício. Sem esse sentimento, meu amigo! DESISTA DE LECIONAR e procure outra ocupação. Pois lecionar é um sacerdócio divino. Educar e encaminhar almas é a sua tônica.

A postura será a mais natural e autêntica possível. Você terá que representar apenas você mesmo, preparado na disciplina a que se propôs. Nenhum estranho à isso.

A voz será seu instrumento principal, e sua utilização deverá ser a guisa de um violinista virtuose. Inflexões variadas de acordo com a dinâmica dos alunos e do tema.
Imaginem um concerto, por exemplo, a música "Sonata ao Luar" criada por Debussy, interpretada... vejamos... por um excelente violinista, Liu Yuxi.



Quem nunca foi a um concerto, eu recomendo!


Então, se esse intérprete executar a obra de modo e dinâmicas invariáveis, sem emoção e sem sentimento, o resultado será tomates, ovos e canetas que não escrevem mais, voando em sua direção.
O mesmo com a inflexão do professor! Deverá expressar sentimentos, VIDA.













Caso contrário, o professor será mais um neurótico encostado no estado. E isso é muito triste.
Alunos merecem qualidade para se tornarem futuros profissionais também de qualidade, valorizando seus salários e engrandecendo a nação que nasceram.

Professores! Tomem ciência de sua importância no mundo e avante! Façam sucesso e sejam FELIZES!!!

domingo, 21 de junho de 2009

Dicas para professores iniciantes

Prepare-se

Às vésperas da primeira aula, um professor pode ter algumas reações desagradáveis, como ansiedade e medo. O novo professor também pode acreditar que é tímido, e ter dúvidas quanto ao seu desempenho em sala. Não creio que isso possa ser considerado "normal", mas são reações freqüentes. Na minha opinião, isso decorre de uma avaliação distorcida que fazemos: imaginamo-nos dando aulas e as coisas dando errado, só que não incluímos na avaliação a preparação que iremos fazer. Você pode considerar os medos e ansiedades como procedentes, se você fosse dar aulas naquele momento. Inclua uma preparação no caminho entre o agora e o momento das aulas e você vai perceber que as emoções vão se modificando à medida que você vai se preparando. Isto vale, é claro, se você pretende se preparar o necessário para o que vai fazer.

Minhas sugestões para essa preparação:

1) Planeje bem as aulas

Faça um planejamento detalhado do que vai fazer, em conteúdo e estrutura, o que vai por no quadro, o que vai dizer. Improviso é para quando você estiver mais maduro e mais à vontade. Se quiser modelos de planejamento, veja o Almanaque do Professor.

Você pode usar também mapas mentais, seja para planejar, seja para apresentar o conteúdo para os alunos, seja para estes estudarem. Veja no link acima a seção com exemplos, modelos e roteiro de elaboração, entre outras coisas. Mapas mentais também requerem prática e dedicação para sairem bem-feitos, mas está no futuro das escolas, pode ter certeza. Se você os usar bem, já estará se diferenciando dos outros professores, para melhor.

É bom que você tenha experiência significativa com o conteúdo, aí pode se concentrar na parte didática. Se não tem, sugiro que a adquira rapidamente ou lecione outra matéria. Nada pior do que um professor teórico, que acaba investindo a maior parte do tempo em seu próprio aprendizado e não no aperfeiçoamento do planejamento, da comunicação e outros aspectos do ensino.

Lembre-se de que todos nós gostamos de variação e não gostamos de monotonia. Varie as estratégias de ensino, faça os alunos se mexerem de vez em quando, faça perguntas, faça-os trabalhar em dupla ou em grupo. Se estiverem inquietos, dê 2 minutos para fazerem o que quiserem. De vez em quando, certifique-se de que estão acompanhando; conforme o caso, um conceito perdido compromete o restante da aula. Dirija-se a um aluno específico; alguns alunos nunca abrem a boca por iniciativa própria, talvez por medos como gozações de colegas ou "pagar mico".

E faça o possível para dar plantões ou ter plantonistas para atendimento individual, os alunos aprendem muito melhor com as respostas às suas próprias perguntas.

2) Ensaie

Dê a aula antes, para ninguém, para o espelho ou para um conhecido. Se com este, peça para ele criticar e lhe indicar as oportunidades de melhoria. Grave-se ou filme-se dando aulas e depois escute ou veja procurando oportunidades de melhoria (faça isso antes que a realidade lhe mostre). Se você nunca deu uma aula antes, quase tudo é novo, e há muito, muito que você não sabe e que nem sabe que não sabe.

Procure variar o tom de voz, é mais difícil prestar atenção a uma voz monótona. Repita e/ou enfatize com a voz algumas passagens mais importantes.

3) Prepare-se emocionalmente

Emoções geralmente contém uma mensagem. Na véspera da nossa primeira aula, poderemos sentir verdadeiro pânico. Depois descobriremos que isso era uma mensagem de que nós deveríamos ter nos preparado melhor.

Na seção Inteligência Emocional tem uma matéria sobre como lidar produtivamente com medos: Medo, seu aliado para o sucesso. Pratique-a algumas vezes que depois você acaba fazendo-a automaticamente, e terá uma boa ferramenta para o resto da vida.

4) Ajuste as expectativas

Cuidado com a auto-expectativa irreal de que você tem que saber tudo e responder a tudo. Já houve casos em que um professor contou que disfarçava seu não-saber indicando ao aluno o exercício de buscar a resposta.

Você tem que saber o conteúdo e mais um pouco. Quando nos perguntam coisas que não sabemos, fora da matéria, poderemos simplesmente dizer: não sei!

Se achar importante, pode até procurar, mas não é a regra.

O aluno admira a sinceridade e sabe que não se consegue saber tudo, porque isso não é possível. Dizer o que é, quando sabe, dizer que acha que é, quando não tem certeza, e dizer que não sabe, quando realmente não sabe. Isso é que o torna confiável.

5) Segure as rédeas da turma

Um ponto essencial em classe é você reconhecer e saber que você é a autoridade. Os alunos testam os limites para saber como se portar e usam o que acontece como referência para o que vão fazer. Se alguém conversar alto e você não fizer nada, abre caminho para que aconteça de novo. E se você disser que vai mandar alguém embora se atrapalhar e o fizer duas ou três vezes, vai ter um padrão que permite aos alunos prever o que vai acontecer, e aí não vai precisar mandar ninguém embora. O importante aqui é você ter bem claro para si mesmo o que quer e saber que é o responsável por fazer isso acontecer.

Por outro lado, é importante preservar um bom e amigável relacionamento com os alunos, senão te "fritam" e você não consegue alcançar o objetivo. Assim, um dos objetivos iniciais é construir um bom relacionamento com a turma e com os alunos, o que vai lhe permitir depois chamar a atenção deles sem que eles achem que você os odeia (sobre isso, veja a matéria Golfinho esperto). Para isso, procure os lados bons de cada um: um é estudioso, o outro é cordial e respeitoso, todos têm qualidades, e você é que tem que percebê-las. Se tiver que fazer algo drástico, como mandar alguém embora, faça-o na boa, sem "matar" o relacionamento com ninguém. O que você diz é secundário; a maneira como o diz é muito mais significativa.

Nosso papel em sala é análogo ao de uma boa enfermeira, que não liga se o doente é chato ou não, ela tem uma missão e precisa fazer o que é preciso para cumpri-la, e precisa então relevar, ignorar e esquecer as coisas que a tiram do foco e não contribuem para os objetivos.

6) Coloque-se no lugar do aluno

Um exercício muito bom que você pode fazer é, estando relaxado, visualizar-se sentado numa das carteiras, na posição de aluno. Experimente e descubra as vantagens. Um exemplo que conheço de como preparar as aulas pode ser assim: ler a matéria, montar o quadro na mente e se colocar na posição de um aluno para verificar se está bom.

Outra coisa boa é lembrar-se de suas próprias experiências como aluno, como o que gostava nos professores e como se relacionava com eles, o que sentia, como se motivava, influência dos colegas. . .

7) Tímido, eu?

E se você acredita que é tímido, permita-me não acreditar nisso, garanto que tem situações em que você não age timidamente. É uma situação nova e requer preparação, e uma vez preparado o suficiente, você vai se sentir mais confiante e com vontade, sabendo que vai fazer um bom trabalho ou pelo menos que fez o seu melhor para isso, e vai continuar melhorando na medida de sua dedicação. Para isso você só precisa de foco: durante um tempo, priorizar a nova atividade e dedicar todo o tempo possível. É querer de verdade fazer o melhor possível. Depois é mais tranquilo.

8) Melhore-se

Para o futuro, mantenha ao lado, leia e procure aplicar as idéias de livros de didática em seu idioma (local), ou então, sugiro estas obras, e em particular os de PNL. Recomendo:

- Treinando com a PNL (O'Connor e Seymour)

- Enfrentando a Audiência (Robert B. Dilts)

- Aprendizagem Dinâmica I e II (Dilts e Epstein)

- Almanaque do Professor

Ponha na cabeça e no coração que haverá sempre algo a mais para se aprender, seja com livros, com colegas, consigo mesmo, com o coordenador ou com feedbacks de alunos. Descobrir que não sabe algo é um avanço, lembre-se disso. E, como disse o Millôr, "Aula em que o professor não aprende nada é uma aula inútil."

Em síntese

Se eu fosse resumir, diria que o mais importante é: vai acontecer, e você precisa se preparar para isso. A certeza de que vai acontecer, junto com a vontade de fazer bem-feito, é que mobilizam seus recursos e suas capacidades, é que fazem com que você dedique 5 minutos a mais. O resto é decidir como será feito e aprender com a experiência ao invés de lamentá-la. E não se iluda: você vai se enriquecer devagar, um passo de cada vez.

Boa sorte ao Lulu, meu irmão querido, e aos professores que, porventura, lerem este artigo! E uma frase que vi algures para fechar:

"Quanto mais eu trabalho, mais sorte eu tenho!"


sexta-feira, 19 de junho de 2009

ESCOLA & ALUNO



Instituições se preocupam demais com o programa e de menos com o aluno real na sala de aula

Quando as deficiências do ensino médio são apresentadas à sociedade pelos fracos resultados do aluno, uma sensação de que há um imenso descompasso entre alunos, professores, governos e pais parece inevitável. São os jovens que estão desinteressados, é o mestre que está desmotivado, o governo que investe pouco ou os pais que estão alheios à vida escolar dos filhos?

A resposta da equação é uma mistura desses fatores. O desencontro acontece mesmo entre as instituições de ensino e o aluno no ambiente escolar. A escola está voltada para o próprio umbigo, não olha para o aluno real, que está na sala de aula, e não tenta compreendê-lo.
Para promover esse encontro - desejado por todos, mas alcançado por poucos - de aproximar o conteúdo programático do cotidiano do jovem é uma das soluções possíveis. Os adolescentes nunca escreveram tanto, na internet principalmente, mas nunca escreveram tão mal.
A disposição em entender garotos e garotas parte de professores preparados e integrados à ideia da interdisciplinaridade, que, infelizmente, são minoria. Nesse sentido, iniciativas como a de divisão das disciplinas em grandes áreas e a de oferecer uma escola para professores talvez não sejam suficientes. Mas são um caminho.

O ENTRONCAMENTO
O ensino médio é o primo pobre da educação no Brasil. Pensemos na divisão do ensino: temos a escola básica, que é formada pela infantil, pela fundamental e pelo ensino médio, e temos a graduação e a pós. De todas, a que mais se malha é o ensino médio, que é um entroncamento de três funções importantes. Uma delas é a de abrir as portas do mundo do trabalho para o aluno. O jovem tem consciência de que ter o diploma e dominar o conteúdo é condição mínima para ele ter um emprego. A outra função é preparar para a faculdade. E a terceira é completar a educação básica e, nesse sentido, o ensino médio é uma escola terminal, porque conclui um ciclo. Para a maioria dos jovens, essa vai ser a última etapa da escolaridade. Quando analisamos como eles estão se despedindo da vida escolar, os resultados são muito negativos.

COBRANÇAS MÚTUAS
Invertendo a lógica, pensando do ponto de vista do ensino médio, pode-se perguntar às escolas que o antecederam: por que vocês não ofereceram um aluno mais preparado? Pode-se perguntar às universidades: o que vocês fazem com o aluno real que chega aí? A universidade tem um perfil de aluno ideal fora da realidade - seja da escola pública ou privada. Elas não trabalham com o aluno concreto que está na sala de aula, mas com uma representação do aluno.

AULA DE DECEPÇÃO
Os pais levam a criança para a educação infantil cheios de esperança, de expectativas da vida que ela vai ter. Na escola fundamental, já aparecem problemas, mas ainda existe um caráter de preparação, de aspiração. Quem sabe o aluno do ensino médio não está apenas denunciando a decepção com um sistema de ensino em que ele depositou suas maiores esperanças? Todo mundo só vê o que o aluno não tem, não faz, não dá conta e o que ele consegue fazer é pouco valorizado. Sempre foi e está cada vez mais difícil ser adolescente. Dele são exigidas coisas de adulto, para as quais ele não tem interesse nem repertório - ele está preocupado com sua inclusão em grupos, sua iniciação sexual, seus sonhos. Então, os adolescentes têm muitas decepções com essa escola que não olha para ele, que não é feita para ele, não é pensada com ele.

CONTINUAR OU NÃO?
A opção de continuar estudando não é simples. O jovem tem de escolher uma carreira que ele deseja e seja possível. É comum ver um fisioterapeuta que queria ser médico, por exemplo, mas não teve condições. Agora, um taxista não precisa de universidade. Talvez ele precise de um bom curso de línguas, saber ler jornal com entendimento, e ele tem de ter recebido uma boa educação básica. Mas a maior parte das profissões não pede faculdade, porque a graduação é feita para certas ocupações cuja complexidade exige uma formação que a educação básica não dá. Posso ser um bom caixa de supermercado, que é uma ocupação útil na sociedade, sem ser graduado. As pessoas gastam um dinheiro enorme, que muitas vezes nem têm, para fazer um curso fraco. Essa decisão vai desembocar em mais uma decepção.

COMPETÊNCIAS E HABILIDADES
A educação básica tem de desenvolver competências e habilidades nos alunos. Os conteúdos disciplinares são esquecidos meses depois do vestibular. O que sobra da educação básica é o que o sujeito aprendeu como disciplina no sentido de habilidade e competência para fazer o melhor possível em determinada situação, saber tomar decisões. É importante que o jovem saiba demonstrar um teorema, argumentar, ler uma fórmula, fazer um cálculo mais sofisticado, ler e interpretar um texto, trabalhar com escalas, grandezas, etc. De certa forma, pensar por áreas de conhecimento - exatas, humanas, biológicas - como na proposta do MEC é sair do conteúdo disciplinar e entrar nos raciocínios, nos modos de pensar. Só que os professores não estão preparados para essa complexidade.

VIDA DE PROFESSOR
De todos os professores, os do ensino médio são os mais sacrificados. Para ter um salário razoável, ele precisa dar muitas aulas e chega a ensinar 600 alunos, não consegue nem como saber o nome deles. Ele não dá aula, dá palestras. Por isso, as áreas de conhecimento podem facilitar seu trabalho, para que eles tenham menos alunos. Mas, se o conteúdo disciplinar já é mal dominado por muitos, imagine as áreas... É necessária uma visão de interdisciplinar. Esse raciocínio já existe em algumas escolas, quando se trabalha com projetos. Quando uma turma elabora um jornalzinho, por exemplo, tem de pensar em texto, economia, biologia, etc.

DIVERGÊNCIA DE INTERESSES
Os protagonistas da educação têm interesses diversos. O adolescente vive uma problemática psicológica de atravessar um período turbulento, que é ao mesmo tempo a época em que mais se sonha e mais se quebra a cara. Do ponto de vista cognitivo, ser adolescente é ter uma estrutura mental que permite compreender coisas mais complexas do que o da criança. Do ponto de vista físico, a pessoa se torna adulta, com todas as implicações disso. Já o interesse da escola é ensinar conteúdos, disciplinas, e formar alunos que se saiam bem no Enem. O governo foca em preocupações econômicas e políticas. Por fim, a família cria muita expectativa sobre esse jovem, muitas exigências. A questão é como coordenar esses diferentes interesses.

O CUSTO DA EDUCAÇÃO
Muitos professores são realmente fracos de conteúdo. Nesse sentido, acho positiva a iniciativa do governo de criar uma escola de professores. Não que isso seja suficiente, mas é um caminho. Diz-se que o Brasil gasta muito com educação, mas não é assim. O Chile gasta bem mais. Mas o problema econômico da educação é o seguinte: o Estado gasta muito e os professores ganham pouco. Isso acontece porque são muitos funcionários, contratados e temporários. Na escola particular, 5% dos professores faltam às aulas. Na pública, são 40%. Então, o governo precisa contratar três professores para ter um na sala de aula. Eles faltam por mil motivos, alguns razoáveis. Mas o sistema não aguenta sustentar isso.

ENCONTROS E DESENCONTROS
A sociedade de hoje é a sociedade do conhecimento e da tecnologia. Há coisas que o jovem quer aprender e para as quais não precisa de professor, pode recorrer ao computador. Mas há coisas que ele só aprende na escola. Veja, o jovem nunca escreveu tanto como hoje, no MSN, no Orkut, no Twitter, mas nunca escreveu tão mal. A escrita dos jovens na internet é completamente desvinculada daquela que a escola valoriza. Esse é um dos desencontros. Outro exemplo: o adolescente se interessa imensamente pela biologia do corpo humano, claro, mas não aquela dada pelo professor na aula da manhã. Os jovens querem aprender temas que dialoguem com seu cotidiano. A escola está muito voltada para o próprio umbigo. Ela só se preocupa com aquilo que precisa ser ensinado, com o conteúdo programático, fica centrada nas exigências que ela mesma faz e está pouco articulada com os recursos cognitivos e socioafetivos do aluno.

O ALUNO É EXIGENTE
Para falar a língua do aluno, a escola não precisa baixar o nível. Aliás, os jovens não gostam que o nível caia, não gostam de professor fraco. Eles sonham com uma profissão melhor ou tão boa quanto a dos pais - e isso é aflitivo para eles, inclusive. Então, um professor que manje bem da matéria, tenha autoridade, saiba falar, estabeleça contato e sintonia com o adolescente é respeitado e reconhecido. O professor fraco e pouco motivado é tripudiado. O aluno fraco gosta e precisa de um professor forte e sabe reconhecê-lo. A não ser aquele aluno que já entrou malandro no sistema, querendo só o diploma. Mas isso é uma ilusão, diploma não basta a ninguém. Outra figura que é menosprezada, mas é fundamental, é o diretor. Escolas que têm um diretor motivado têm desempenho muito superior àquelas em que o diretor é fraco e ausente.

RESISTÊNCIA ÀS MUDANÇAS
Uma boa parte dos professores são mulheres. E elas são pessoas sérias, comprometidas, mas estão sobrecarregadas, porque têm a tal dupla jornada: dão aula e cuidam da casa. Isso quando a jornada não é tripla, porque muitas dão aula em escolas diferentes. Pois bem, com uma carga dessas, se vier uma reforma que exija mais dedicação, mais tempo na escola, certamente haverá resistência.

OS VALORES NO TEMPO
O currículo precisa ter um olho nas disciplinas e outro na vida. E responder ao aluno a pergunta: o que vale a pena aprender na escola? Vale aprender coisas que têm valor passado e futuro. Por exemplo, ler e escrever, argumentar, ordenar, categorizar, relacionar, cuidar da saúde, tudo isso tem valor há milhares de anos. E continuará sendo bom por mais tantos milênios, mesmo que a forma de fazer isso mude. A escola está comprometida com o passado e o futuro da sociedade, mas num presente que faça sentido para o aluno. O problema está aí. A escola se preocupa com o passado e o futuro e esquece o presente. Olha e não enxerga o aluno.

A TRÍADE FUNDAMENTAL
Na sala de aula, há um triângulo fundamental. Num vértice, estão os processos de ensino; no outro, os processos de aprendizagem; no último, os processos de conhecimento, que têm a ver com o domínio das disciplinas, dos métodos. Se eu penso na relação entre ensino e conhecimento, tenho o professor dando aula e seu processo didático. Aqui, a pergunta é como incluir a aprendizagem do aluno. Na relação entre ensino e aprendizagem, há a problemática do relacionamento entre professor e aluno. A pergunta é como incluir aqui o conhecimento. Entre a aprendizagem e o conhecimento, está o aluno se tornando emancipado, aprendendo o conteúdo. Como incluir o professor nesse processo é a questão nessa aresta. O que tem acontecido nesse triângulo? O conteúdo tornou-se pesado e complexo; o ensino é precário, pela falta de condições dos professores; e o aluno é mal preparado. Equilibrar essa tríade é a saída.

VIOLÊNCIA INTRAMUROS
Não é que os alunos, os professores, os diretores sejam violentos. A sociedade é violenta. E na escola isso também se apresenta. A escola, seja pública ou privada, é um grande centro de relações humanas, com tudo que isso tem de lindo e de feio. Ela é um grande espaço sociocultural. A sala de aula pode não ser interessante, mas a escola é quase como um clube. É onde eu faço amigos, arrumo namorada, bato papo, mostro minha barriga sarada. Rola de tudo na escola, mais do que em qualquer shopping center. Os casos de violência que devem ser vistos com atenção são aqueles em que o aluno só é violento na escola. Agora, o professor tem de incorporar o tema violência ao currículo. O tempo que ele gasta falando de respeito, de cidadania, de disciplina tem de ser considerado ensino. Não pode ser visto como perda de tempo. Tem de ser validado.